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terça-feira, 28 de outubro de 2008

Arte, intervenção urbana e apropriação do espaço


Na semana passada um grupo de pesoas que se intitulam Grupoarac, fez uso de sua criatividade e cidadania e apropriou-se de um espaço vazio da Bienal, colando uma série de stickers nas paredes internas do prédio (clique aqui para matéria da Folha). Domingo, numa ação mais incisiva, o mesmo andar prédio foi pichado. O "sticker" é um tipo de intervenção urbana, como o grafite, que ganhou as ruas de São Paulo, especialmente a região da rua Augusta, há cerca de quatro anos. Feito de papel adesivo ou comum, os "stickers" trazem desenhos de seus autores e estão espalhados por outras metrópoles.


Outra forma de apropriação do espaço com cores e tintas é o stencil (aqui para a página stencilbrasil, com várias imagens de stencil pelo Brasil).


Não vem ao caso se você gosta de um trabalho e não de outro (eu gostei dos stickers, mas não da pichação). Ou mesmo se acha tudo feio. A questão é que essas pessoas não aceitam deixar a cidade ao 'Deus dará', ou apenas nas mãos dos governantes e da iniciativa privada. Eles sabem que a cidade é sua também e como verdadeiros donos do território o decoram e utilizam da forma que lhes parece mais adequada. Sem fazer uso de violência e provocando (ou tentando) uma reflexão coletiva sobre o uso de nossos espaços públicos, esses companheiros de trincheira sabem que, quer queiram, quer não, quer gostem quer não: É TUDO NOSSO!!!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Uma cidade melhor não privilegia os carros

Para tornar o espaço urbano um local que facilite a busca da pessoas pela felicidade é necessário que a cidade se torne um local agradável. Para isso é preciso que ele seja projetado para isso: para ser agradável, e não para ser estressante, produtivo, rápido ou qualquer outra coisa que não seja agradável, e ponto. É sintomático, por exemplo, que tantos moradores de São Paulo não gostem da cidade. Nossa cidade é projetada (?) para facilitar a circulação de pessoas e mercadorias e não para ser agradável. Resultado: é uma cidade desagradável.

No meu entender, a principal razão disso é que São Paulo, como quase todas as grandes cidades do Brasil e do mundo, coloca como prioridade na constante reformulação de seus espaços, os automóveis. Nossos dois maiores rios, por exemplo, que poderiam ser os locais mais agradáveis da cidade, fonte de lazer popular e democrático são esgotos a céu aberto e, principalmente, as principais artérias de transporte rápido e individual da cidade.



Um espaço urbano que privilegia automóveis não é um local que faça bem para as pessoas. Elas vivem cansadas, estressadas, insatisfeitas e fora de forma! É o que mostra o gráfico abaixo, sampleado d'O Escriba.



A mudança desse estado de coisas pode muito bem começar por você, se apropriando do espaço público como sugeri num post passado, deixando o carro de lado e usando mais seu corpo para se locomover. Acredite: o que parece longe e íngreme hoje, vai parecer perto e uma subidinha leve amanhã. E o que é melhor: a calça que parece apertada hoje, via lhe cair muito bem amanhã...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A cidade é para pessoas ou É tudo nosso!

Continuando nossa série sobre a melhor utilização do espaço urbano, faço um lembrete óbvio, mas absolutamente necessário: a cidade foi feita para as pessoas morarem, viverem e, quando dá, para serem felizes.

Reparem no seguinte: a cidade é para pessoas e não coisas ou carros, e essas pessoas estão lá para tentar ser felizes, e não para correr de um lado para outro sem poder se apropriar da paisagem. Sim, porque se apropriar do território é algo que permite às pessoas criarem laços de pertencimento a comunidade e a localidade que são essenciais para que nos sintamos bem onde estamos e assim possamos tentar ser felizes, o que já não é tarefa das mais fáceis...
E isso cria um ciclo virtuoso, pois quando sentimos que um espaço é nosso (nossa casa, por exemplo) cuidamos mais dele, fazemos ele ficar mais agradável, ficamos mais felizes, e aumentamos nossos laços com esse espaço e cuidamos ainda mais dele...


Assim, para tornar nossa cidade mais agradável é imprescindível que nos apropriemos dos espaços urbanos, que não usemos as vias da cidade apenas como caminhos para nos levar do ponto A para o ponto B, mas que sintamos que o caminho é também uma extensão da nossa casa.


Para isso vale tudo: ficar na rua conversando sentado num muro ou num banco; andar de cabeça erguida e tranquilo pelas calçadas; comprar pãozinho sempre na mesma padoca; adotar uma árvore; se negar a jogar lixo na rua... e pintar as paredes do seu jeito só para ficar mais bacana!



É esse tipo de arte e intervenção urbana que o BluBlu faz.



Essas ações que tem um que de desobediência civil podem ter muitas mensagens diferentes, mas todas elas nos lembram uma outra coisa óbvia, mas igualmente necessária de se reafirmar:

É tudo nosso!!

obs: para quem gostou das imagens, muito mais aqui.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Transposição do rio São Francisco

O polêmico projeto de transposição do rio São Francisco, provoca reações distintas, às vezes radicais, e quase sempre ligadas exclusivamente a interesses pessoais, sejam eles políticos ou econômicos.

A transposição transformará rios intermitentes (temporários) em rios perenes e garantirá o abastecimento constante de açudes da região, através da construção de dois canais, como mostra o primeiro mapa abaixo. Com isso, o problema da seca nas regiões beneficiadas vai, obviamente, diminuir. Por isso, vale comparar o mapa das áreas beneficiadas com o das áreas que sofrem processos de desertificação.

Os números que envolvem a gigantesca empreitada variam muito, sempre de acordo com a posição que se tem do projeto. O número de beneficiados costuma variar entre 3 e 12 milhões de pessoas. O preço da obra oscila entre 4,5 bilhões de reais a 6 bilhões de dólares. Apesar disso, algumas considerações podem ser feitas.

O semi-árido tende a se transformar em pólo de fruticultura intensiva, provavelmente voltada para exportação, como as cidades de Petrolina e Juazeiro, as duas maiores cidades do semi-árido, ambas situadas na margem do rio. Assim, a economia da região deve crescer e desenvolver-se razoavelmente, melhorando a qualidade de vida da população local. Por outro lado, é igualmente provável que a agricultura familiar que existe na região desapareça, dando lugar aos grandes empreendimentos de fruticultura dos grandes beneficiados pelo projeto: os latifundiários do semi-árido.
Vale destacar também os possíveis problemas ambientais que a execução e a conclusão da obra podem trazer: assoreamento do rio; diminuição do número de peixes; e até a contaminação de lençóis freáticos por fertilizantes e pesticidas usados na agricultura.

Para uma maior diversificação dos argumentos e um pouco mais de profundidade na análise, recomendo a leitura de dois artigos, ambos publicados na Folha de S. Paulo em 2005. Esse é do então ministro Ciro Gomes que defende a transposição. E esse é de D. Luiz Cappio, o frei que fez greve de fome contra a transposição.
E, para ver uma animação do G1 sobre a transposição clique aqui

terça-feira, 17 de junho de 2008

Biocombustíveis, fome e política internacional

Muito tem se discutido sobre a complexa relação entre o uso dos biocombustíveis, a preservação do meio ambiente e o recente aumento de preços dos alimentos. Esse foi inclusive o tema da II Conferência Domus Ambientiae.A despeito da qualidade das discussões, alguns apontamentos fazem-se necessários.

1. O álcool etanol polui muito menos do que a gasolina e do que o diesel. Mas polui e não é pouco. A solução para o aquecimento global pode passar pelo uso de biocombustíveis, mas seu uso não é solução para esse problema.

2. Sua grande vantagem é vir de fonte renovável, e portanto diminuir nossa dependência de combustíveis fósseis.

3. É lógico que se os biocombustíveis passarem a ser usados em altíssima escala, terras que hoje destinam-se a produzir alimentos, passarão a produzir matéria-prima para os combustíveis e o preço dos alimentos aumentará. É a famosa Lei da Oferta e da Procura.

4. No entanto a atual alta de preços dos alimentos tem outras causas. O subsídio dos países ricos à sua agricultura é uma delas, como disse o presidente Lula e a FAO confirmou. Outra é a gangorra de preços natural do capitalismo. Em artigo muito esclarecedor (aqui) Rubens Ricupero mostrou que a atual alta dos alimentos ainda não foi capaz de elevar os preços aos níveis em que eles estavam antes dos anos 80, quando viveram uma forte depreciação nos termos de troca.

5. A tentativa de associar a alta dos alimentos com o biodiesel é de fundo econômico e geopolítico. Esse artigo do Antônio Ermírio de Morais ajuda a entender o potencial que o Brasil tem de se tornar um mega produtor de energia se os biocombustíveis passarem a ser usados em larga escala. Além de nossas reservas de petróleo recém descobertas temos que o álcool etanol de cana é muito melhor que o de milho, produzido pelos EUA. Segundo a ANP, enquanto o balanço energético do álcool de milho é de 1,2 (ou seja, após o processo de produção do combustível tem-se 1,2 mais energia do que foi gasto para produzi-lo) o balanço energético do álcool de cana beira a razão de 8,0!! É muito mais. Mas é óbvio que usar o álcool de cana interessa a muito pouca gente e a confusão que se faz com os biocombustíveis, tratando como se fosse tudo a mesma coisa não é feita por ingênuos.