terça-feira, 17 de junho de 2008

Biocombustíveis, fome e política internacional

Muito tem se discutido sobre a complexa relação entre o uso dos biocombustíveis, a preservação do meio ambiente e o recente aumento de preços dos alimentos. Esse foi inclusive o tema da II Conferência Domus Ambientiae.A despeito da qualidade das discussões, alguns apontamentos fazem-se necessários.

1. O álcool etanol polui muito menos do que a gasolina e do que o diesel. Mas polui e não é pouco. A solução para o aquecimento global pode passar pelo uso de biocombustíveis, mas seu uso não é solução para esse problema.

2. Sua grande vantagem é vir de fonte renovável, e portanto diminuir nossa dependência de combustíveis fósseis.

3. É lógico que se os biocombustíveis passarem a ser usados em altíssima escala, terras que hoje destinam-se a produzir alimentos, passarão a produzir matéria-prima para os combustíveis e o preço dos alimentos aumentará. É a famosa Lei da Oferta e da Procura.

4. No entanto a atual alta de preços dos alimentos tem outras causas. O subsídio dos países ricos à sua agricultura é uma delas, como disse o presidente Lula e a FAO confirmou. Outra é a gangorra de preços natural do capitalismo. Em artigo muito esclarecedor (aqui) Rubens Ricupero mostrou que a atual alta dos alimentos ainda não foi capaz de elevar os preços aos níveis em que eles estavam antes dos anos 80, quando viveram uma forte depreciação nos termos de troca.

5. A tentativa de associar a alta dos alimentos com o biodiesel é de fundo econômico e geopolítico. Esse artigo do Antônio Ermírio de Morais ajuda a entender o potencial que o Brasil tem de se tornar um mega produtor de energia se os biocombustíveis passarem a ser usados em larga escala. Além de nossas reservas de petróleo recém descobertas temos que o álcool etanol de cana é muito melhor que o de milho, produzido pelos EUA. Segundo a ANP, enquanto o balanço energético do álcool de milho é de 1,2 (ou seja, após o processo de produção do combustível tem-se 1,2 mais energia do que foi gasto para produzi-lo) o balanço energético do álcool de cana beira a razão de 8,0!! É muito mais. Mas é óbvio que usar o álcool de cana interessa a muito pouca gente e a confusão que se faz com os biocombustíveis, tratando como se fosse tudo a mesma coisa não é feita por ingênuos.

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